Jornal Pedro II, 27 de janeiro de 1858
Sr. Redator
Por toda parte alega razão
E não se descobre paixão
Maxima.
Lendo o periódico Cearense
nº 1090 de 12 do corrente deparei com uma correspondência assinada pelo cap. João
Francisco Carneiro Monteiro do Aracaty, que julgou em seu furor diabólico,
ferir-me assacando-me defeitos, que só ele conhece e que jamais será capaz de
provar, para o que o desafio.
Um dos defeitos, que me
imputa, o de falsificador de firmas de bilhetes correntes, constitui um crime e
um crime gravíssimo que as leis do país tem tratado de punir com o merecido
rigor: apresente-me pois, Sr. João Francisco, esse processo ou ainda mesmo
documento judicial, que prove a existência desse crime, que eu vos qualificarei
de verdadeiro.
Também vos lembrastes de me
dar à paternidade das missivas do Aracaty, assinando-as como dizeis, ora com J.
C. ora com K.; agradeço-vos a honra que me destes; mas, não posso aceitar essa
paternidade, porque nunca tive jeito para escrever missivas e tanto mais que,
para escrevê-las, era-me preciso tempo, e este me falta em virtude de minhas
ocupações de caixeiro da casa Srs. Caminha & Filhos, cuja noticia me
fizestes o favor de publicar pelo Cearense.
Eu, e vós somos bem
conhecidos no Aracaty. A conduta que ei apresentado desde muitos anos a esta
parte, e principalmente nesta cidade desde 19 de outubro de 1856, que entrei
com minha família, é conhecida de seus habitantes: elas que me julguem e digam
se me tenho comportado dessa infame maneira, que me imputais; se não tenho
comunicado com todos e finalmente se me tenho envolvido nas dissensões da
terra.
Outro tanto se não pode de
dizer de vós, Sr. João Francisco, que tenho ouvido tratar a vosso respeito de
coisas bem desfavoráveis, como seja esse apelido de Pitiu 2º e João Cafange,
que a ser verdadeira a etimologia que vos deram daqueles nomes por certo, que
muito e muito o desonra. Além disso, aquelas outras coisinhas que por ai se
contam da casa do vosso avô o finado Manoel Francisco Ramos muito vos acreditam
e fazem merecedor de uma boa reputação, dignidade e etc.
Respeito a historia, que
contais da desavença entre mim e o meu mano Vicente Ferreira Vidal; mas, logo
esperais por uma resposta digna de vós: ele mora no Crato aonde tem uma
tipografia pela qual vos dará o que mereceis – quero dizer – descreverá as
vossas belezas em frase mais clara,
dirá essas verdades, que eu procuro encobrir para não descer como vós a baixa
esfera de manivela. Enfim mostrara que vós sois um pobre diabo, um pedante, um
bregueiro digno de uma camisola e casa de alienados.
De minha parte vos perdoo-o;
porque não soubestes e nem ao menos lestes o que assinastes.
Aracaty, 18 de janeiro de
1858.
João Anselmo da Silveira
Vidal.
------------------------------------------------------------------------------
João Anselmo da Silveira Vidal
(Nacionalidade Portuguesa).
Era casado com Carolina Emília da Silveira Vidal (Carolina Malagueta).
0 Response to "Jornal Pedro II, 27 de janeiro de 1858"
Postar um comentário